Eu já quis ser arqueóloga ...
E me lembrei disso visitando o MAM _ Museu de Arte Moderna de São Paulo _ esta semana.
Lá, me surpreendi com a exposição Da Pedra, Da Terra, Daqui, tema da trigésima quarta edição do Panorama da Arte Brasileira.

A curadoria partiu dos zoólitos (e de uns poucos antropólitos) encontrados nos sambaquis localizados no sul do Brasil e os confrontou ou, harmonizou (?) com obras de seis artistas que "investigam o Brasil a partir da terra, que continua praticamente descolnhecida" diz a bruchura da mostra.
Vamos por partes!

Zoólitos, são pedras em forma de animais.
Antropólitos são pedras em forma humana ou similar.
Feitos pelo homem, são estudados há mais de 40 anos mas ainda não se sabe quando foram produzidos, não se sabe por quem foram feitos e nem porque estas pedras em formato de bichos foram confeccionadas.
São peças puras, elegantes, perfeitas em sua ancestralidade!

Elas são encontradas em locais chamados de sambaquis.
Sambaquis são complexos litorâneos formados por toneladas de conchas, cascas de ostras e outros restos de cozinha dos habitantes pré-históricos do Brasil.


A exposição então, montada de forma muito bonita, apresenta diversos zoólitos e obras - instalações, pinturas, vídeos que, de alguma forma tentam dialogar com a história do homem na terra.
Muito louco?
Pode até ser mas, antes de tudo, surpreendente e muito interessante !
Dos seis artistas participantes da mostra, gostei dos trabalhos de dois deles.

A instalação de Miguel Rio Branco está numa sala com chão batido, cheiro de mata e terra úmida, plantas, monolitos em madeira, pedra, telhas de amianto ... e "restos" da civilização humana traduzidos por televisões jogadas, largadas, esquecidas ... algumas com vídeos improváveis!
Me surpreendeu.

Já a instalação de Erika Verzutti solta num grande espaço, repleta de detalhes curiosos, parecendo um brincar, me encantou pela delicadeza e harmonia.
Centenas de objetos alinhados, colocados no espaço de forma calculada e divertida.
Eu gostaria de ter feito algo assim num momento de brincadeira.



E é dela também um conjunto de cinco trabalhos que estavam em uma outra sala; em especial um deles, uma obra que me chamou muito a atenção, parecia um par de seios, ou os dentes da Monica (personagem dos quadrinhos do Maurício de Souza)!


Mas para mim, sem nehuma dúvida, o que há na exposição de mais bonito, tocante e agradável, são os zoólitos.

Em arte contemporânea _ e deixo explicitado aqui que não entendo nadinhaaaaaa do assunto_ muitos trabalhos se apresentam com propostas de elocubrações sociológicas, antropológicas ou políticas.
Olhar e se encantar com os zoólitos e pensar nos sambaquis, traz um silêncio gostoso ao coração e o olhar fica mais sereno.

Este conjunto de pedras raras e silenciosas, simbolizando bichos de forma tão bela sossegam a inquietação que muitas vezes a arte contemporânea gera em mim.
Foi fascinante olhar e ver a simplicidade pura.

E aquele desejo que eu tinha lá atrás, quando era ainda menina, fez sentido novamente ... sorri porque senti uma coisa boa no coração ... lembrei que ainda sou aquela pessoa que queria conhecer o passado ancestral, os começos e, quem sabe, os zoólitos que eu nem sabia que existiam!
